Para falar sobre o início da história da filosofia, a sua origem, devemos falar sobre os Mitos (Não, não é sobre o “mito” Chuck Norris que vamos falar, muito menos sobre P.J., a tentativa triste de imitar a magnifica história de Harry Potter). Mais precisamente, iremos falar um pouco a relação filosofia e mito na Grécia.
Uma das primeiras formas de compreender o mundo, o pensamento mítico, é
uma tentativa de dar sentido, de conhecer, entender, de chegar a uma verdade,
isso através de uma crença. Uma narrativa em busca da compreensão, de sanar os
medos que aflige todos nós humanos mortais. A palavra “Mito” tem sua origem Grega,
mythos (relato, fábula, conto, ...)[1].
Para que o mito tenha crédito, e seja
visto como uma verdade plausível para a explicação do cosmo, dependerá muito de
quem o fala, de quem narra. Imaginemos que eu diga a vocês que a terra é uma colônia
de humanos em uma espécie de fazenda de
formigas, e que estamos aos cuidados de uma espécie de ser em sua fase de existência
infantil. Bom, talvez não convença muito, mas, se fosse um ancião, um velhinho
com aquele aspecto de sabedoria, talvez iria ter mais credibilidade. O que
tento mostra é que não havia um método racional, algo que poderia ser acessado
por todos através da razão, ou você acreditava e agora viveria mais tranquilo
com a natureza, longe da insegurança e do medo, já que você tinha uma
explicação para o universo e tudo mais (42), ou não acreditava. Simples assim. Mas, e a Filosofia com isso?
A Filosofia surge dessa mesma necessidade, de explicar o mundo, mas ela
o faz de forma diferente, ela tenta explicar de forma racional o mundo, de
forma lógica, usando apenas a razão, sem intervenção de seres divinos ou
cósmicos. É uma saída da doxa (palavra
grega que significa “crença”, “opinião comum”...) para uma episteme (outra palavra grega, que significa
algo como “ciência”, “saber verdadeiro”, ou, nas palavras de uma certa moça, “inteligência
pura!”), a filosofia é a saída da
caverna para a luz (Ver - Alegoria da Caverna, Platão), ou, como Parmênides
coloca, é sair da “da via da opinião”
e ir para o “caminho da verdade”.
Mas, esse surgimento da filosofia no ocidente (sim, no ocidente, pois eu
sou da galerinha que não acredita que a filosofia teve um local especifico/único
para seu surgimento... [para futuras postagens]) não foi de repente, como um big
bang, pois parece que ao contar isso para os alunos, eles acabam por achar que tudo foi como em um
passe de magia negra, e o que de fato é um pouco mais complexo, onde, então,
houve foi várias situações que contribuíram para o “surgimento”, eu, para esse
caso da passagem do mito para a filosofia, destaco a interação entre os povos
daquela região (mas, recomendo, que você pesquise mais um pouco sobre o Milagre Grego.), onde a interação grega
com outros povos, contribui para que alguns fossem em busca de outras verdades,
já que as anteriores pareciam não ser mais tão satisfatórias e acalentadoras. Imagine que você é um ser apaixonado e o
outros ser, motivo de tal paixão, informa que na sexta passada estava doente em
casa. Ok? Certo. Você acredita loucamente nessa pessoa, é uma verdade indiscutível,
todavia, chega aos seus ouvidos que na sexta, sua paixão na verdade estava em
um Reggae. E então? Fica no mundo da doxa
ou corre para busca da episteme. Com
certeza, grande parte iria tentar ir atrás da versão mais concreta da história.
A filosofia também surge assim, dessa curiosidade para descobrir a verdade,
mesmo que as vezes não possamos suportar tal verdade (Chora, míZera!* ).
É melhor viver filosofando
do que iludido nessa mízera!
Bom, deixo alguns devaneios para vocês e dois fragmentos interessantes
(ah, e depois posto algumas questões com comentários) -
I. Vivemos ainda acreditando em muitos “mitos”? Será que ainda nos prendemos
em algumas ideias apenas pelo medo da verdade? Existe verdades absolutas?
II. As redes sociais estão cheias de doxas
e será que compartilhamos muitas delas sem ter nenhum tipo de olha crítico (filosófico)?
III.
A tendência comum nos dias atuais de interpretar a palavra
"mito" como significando "inverdade" é quase com certeza um
sintoma da incredibilidade e conseqüente ineficácia de nossos próprios
ensinamentos míticos ultrapassados, tanto os do Velho quanto do Novo
Testamento: a Queda de Adão e Eva, os Mandamentos, as Chamas do Inferno, o
Segundo Advento do Salvador etc., e não apenas desses Testamentos religiosos
arcaicos, mas também dos vários, mais modernos, e seculares
"utopiatos" (vamos chamá-los assim) que estão sendo oferecidos para
substituí-los.
Mitos vivos não são idéias equivocadas e não nascem em livros. Não devem
ser julgados como verdadeiros ou falsos, mas como eficazes ou ineficazes,
salutares ou patogênicos.
Assemelham-se mais a enzimas, produtos do corpo no qual agem, ou de
grupos sociais homogêneos, caso em que são produtos do corpo social.
Não são inventados, surgem, e são reconhecidos por videntes e poetas
para serem em seguida cultivados e usados como catalisadores de bem-estar
espiritual (i.e., psicológico). E, por último, não sobreviverá a mitologia
velha e tardia, nem a inventada ou falsa, e tampouco os sacerdotes e sociólogos
que tomam o lugar do poeta-vidente — o que, contudo, é o que todos nós somos em
nossos sonhos, embora, quando acordamos, possamos falar apenas em prosa.
"Da mesma forma que aqueles que não conhecem o lugar", lemos
no Chandogya Upanishad, "podem passar e repassar sobre o tesouro oculto de
ouro sem descobri-lo, assim todas as criaturas andam, dia após dia, neste mundo
incondicionado de ser-consciência-beatitude sem descobri-lo, porque desviadas
por falsos pensamentos." Extraido do livro “O VOO DO PÁSSARO SELVAGEM -
ENSAIO SOBRE A UNIVERSALIDADE DOS MITOS”, de Joseph Campbell, Ed Rosa dos
Tempos, 1997.
IV.
“Um conhecido homem de ciência (segundo as más línguas, Bertrand Russel)
deu uma vez uma conferência sobre astronomia. Descreveu como a Terra orbita em
volta do Sol e como o Sol, por sua vez, orbita em redor do centro de um vasto
conjunto de Estrêlas que constitui a nossa galáxia (1). No fim da conferência,
uma velhinha, no fundo da sala, levantou-se e disse: "O que o senhor nos
disse é um disparate. O mundo não passa de um prato achatado equilibrado nas
costas de uma tartaruga gigante." O cientista sorriu com ar superior e
retorquiu com outra pergunta: "E onde se apóia a tartaruga?" A
velhinha então exclamou: "Você é um jovem muito inteligente, mas são tudo
tartarugas por aí abaixo!"
A maior parte das pessoas acharia bastante ridícula a imagem do Universo
como uma torre infinita de tartarugas. Mas o que nos leva a concluir que
sabemos mais? Que sabemos ao certo sobre o Universo e como atingimos esse
conhecimento? De onde veio e para onde vai? Teve um princípio e, nesse caso,
que aconteceu antes dele? Qual é a natureza do tempo? Acabará alguma vez?” (Stephen W. Hawking in Uma Breve História do Tempo)
[1] Wiktionary
contributors, "mythos," Wiktionary, The Free Dictionary,
https://en.wiktionary.org/w/index.php?title=mythos&oldid=34173148 (accessed
September 5, 2015).
*mísera
Até logo, mortais.
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